terça-feira, 30 de março de 2021

Celebrar a alegria da vitória dos estudantes!

Em 2017, no primeiro quadrimestre do ano, ministrei o componente Universidade e Sociedade no Cuni Coaraci, na cidade de mesmo nome e que fica há 54 km do campus Jorge Amado, em Itabuna.

Cada aula era uma experiência diferente: a turma de estudantes sempre animada, de vez em quando brigando entre si (no debate de ideias!), cheios de alegria, compartilhavam suas histórias e experiências, me desafiavam a trazer mais informações, dados, etc., me desafiavam a desafiá-los.

Findo o quadrimestre, um grupo me procurou e a partir das discussões feitas, perguntaram se não podíamos fazer um grupo de estudos para entender melhor o perfil universitário daquela cidade. Eles estavam curiosos por compreender o que acontecia ali, uma cidade de onde todos os dias saíam 3 a 4 ônibus com destino a Ilhéus e Itabuna, cheio de estudantes universitários.

Topei o desafio! Nosso tempo era escasso, nem sempre conseguíamos nos encontrar, o deslocamento para o grupo não era simples naquele momento e, muitas vezes, a vida vai tomando rumos diversos. Assim, não conseguimos finalizar o grupo, mas estudamos juntos alguns autores, levantamos dados e entendemos que talvez, em outro momento, fosse possível retomar a pesquisa.

Esse contato, me despertou o interesse em compreender o perfil dos estudantes dos Cunis e suas trajetórias e, nessa perspectiva, submeti a pesquisa a PROPPG, que em 2019, ainda era DPCI e tive um bolsista voluntário, o Alberício, estudante lá do Cuni Coaraci, integrante desse antigo grupo da turma de 2017. Juntos, conseguimos desenvolver a pesquisa "Percursos e perfis estudantis: trajetórias de estudantes universitários da cidade de Coaraci".

Levantamos muitos dados, compreendemos muitas coisas, estudamos muito e, juntos trocamos muitas impressões e análises. Finalizamos essa pesquisa no final de 2020 e mesmo sendo um ano de pandemia, em que nossas vidas ficaram um pouco de cabeça para baixo, desenvolvemos estratégias as mais diversas possíveis para contatar estudantes egressos, estudantes atuais e antigos estudantes que desistiram de estudar na UFSB. 

A pesquisa trouxe dados bem interessantes para pensarmos o processo de afiliação e trajetória dos estudantes do Cuni, mas logo mais teremos notícias sobre isso.

Minha alegria já no começo desse ano, foi receber a notícia de Alberício (esse mesmo pesquisador voluntário!) acabou de ser aprovado no mestrado! É o primeiro estudante aprovado no PPGES oriundo de um Cuni do Campus Jorge Amado.

Isso sim foi uma notícia boa!. Muitas vezes, a profissão docente tem em si um quê de solidão, muitas reflexões e algumas dúvidas se estamos mesmo contribuindo para a transformação social, por meio dos saberes que compartilhamos. Ver aqueles que partilharam nosso caminho, felizes por suas conquistas e saber que você fez parte dessa trajetória, me enche de alegria e me ajuda a caminhar.

No meio de tantos desmanches, de tantos absurdos, uma notícia feliz que permite celebrar a alegria da vitória dos estudantes! 

Sigamos...




quarta-feira, 24 de março de 2021

Pensar a Universidade!

O ciclo de debates: Universidade Popular e Encontro de Saberes vem apresentando, semanalmente, uma apresentação dos capítulos do livro que tem o mesmo nome e que traz importantes reflexões sobre  a universidade na atualidade e o projeto ousado (e já descaracterizado em diversos aspectos) implementado na UFSB. É importante ressaltar que o projeto de universidade popular, pluriepistêmica e territorializada tentado na UFSB no período de 2014 a 2017, precisa ser compreendido e refletido, inclusive para que se entenda os limites que fizeram esse projeto retroceder - no que acima chamei de descaracterização. 

O livro, gestado a partir da experiência e reflexões de diversos autores em sua maioria docentes e ex-docentes da UFSB, antigos gestores e colaboradores, aborda em suas 900 páginas a riquíssima experiência de implantação e dos primeiros anos dessa instituição. Dessa forma, a leitura dos trinta e dois capítulos permitem vislumbrar um panorama das potencialidades, limites e desafios vivenciados na e pela UFSB, abordando a diversa e complexa experiência delineada nesses primeiros anos, dessa inovadora proposta de universidade.

Tive a satisfação de escrever um capítulo em parceria com o colega Gustavo Gonçalves em que refletivos sobre o papel dos Colégios Universitários (Cunis) no processo de inclusão e territorialização da universidade, compartilhando percepções e avaliações dos estudantes sobre esses espaços.

O ciclo de debate pode ser acompanhado no canal do grupo Poéticas Ameríndias, via Youtube, e foi organizado de forma a permitir a apresentação e uma pequena discussão pelos autores dos capítulos. As discussões serão feitas às 2a feiras, sempre às 12h, nos dias 29/03, 05/04, 12/04 e 19/04. Quem perder pode assistir a gravação diretamente no canal. 

A mesa de lançamento aconteceu no dia 22/03 e contou com as reflexões dos professores Naomar de Almeida Filho (IEA/USP), os professores Kabenguele Munanga (USP/UFRB) e José Jorge (UnB) e o mestre Joelson Ferreira (Assentamento Terra Vista/Teia dos Povos). Imperdível!


O livro pode ser baixado gratuitamente no repositório da UFBA: https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/32949

sexta-feira, 12 de julho de 2019

Compreender as cidades, pensar a história urbana

A cidade nunca é uma única cidade. Ela contempla múltiplos espaços, apropriados de formas diferentes pelas pessoas. Essa apropriação passa pela compreensão e entendimento do lugar que cada um ocupa dentro da cidade. Assim, a cidade é sentida de diversas formas e as experiências individuais ou coletivas não são as mesmas, pois congregam as interações entre sujeitos, as vivências, as percepções. Debater esses sentidos e percepções tem sido o desafio que eu e a professora Viviane Ceballos (UFCG) temos nos proposto nos encontros da Associação Nacional de História, desde 2017, por meio do Simpósio Temático Cidades em disputa: histórias, memórias, práticas do/no espaço. Entendemos que as cidades são espaços privilegiados para pesquisadores de várias áreas se encontrarem e comporem um grande mosaico que busca compreender as disputas presentes no espaço urbano, disputas que envolvem apagamento de memórias, predominância de narrativas, valorização e especulação imobiliária, a atuação do poder público - quer como mediador entre interesses conflitantes, quer como indutor de processos de expulsão da população mais vulnerável. Por tudo isso, é que insistimos em debater e visibilizar as diversas pesquisas que tem o urbano e a cidade como seu principal interesse, numa perspectiva interdisciplinar, pois como em um mosaico, as diversas abordagens permitem vislumbrar as múltiplas cidades existentes na cidade. 

Você pode acompanhar o conjunto dos trabalhos apresentados na página da Anpuh e na página do próprio ST: https://www.snh2019.anpuh.org/simposio/view?ID_SIMPOSIO=248



sábado, 11 de agosto de 2018

Compartilhando experiências

Estive no final de Julho no XIV Congresso da Associação de Estudos Brasileiros ocorrida no Rio de Janeiro. Congressos e Seminários são sempre espaços interessantes tanto para troca de experiências com outros pesquisadores, como para nos inteirarmos sobre o que anda acontecendo no mundo da pesquisa. Nesse caso, no campo das Humanidades.


Meu interesse por estudos urbanos e sobre a cidade tem me proporcionado trocas com diversos colegas tanto na UFSB, como fora dela. Dessa vez, compus mesa com a Profa. Verônica Sales Pereira (UNESP/SP), a Profa. Viviane Gomes de Cebalos (UFCG) e o Prof. Álamo Pimentel (UFSB/CSC). Nosso tema de interesse: cidades e a parceria só foi se estreitando: são bibliografias, são conversas, são novas configurações. Meu tema "Entre o passado e o futuro: renovação urbana, turismo e memória no sul da Bahia", particularmente tem proximidades com o tema do meu colega de instituição, Prof. Álamo, que por sua vez, apresentou "Marcas do colonialismo interno na Costa do Descobrimento".
Tem sido um desafio aos poucos deixar o estudo sobre a cidade de São Paulo, sobre a qual tenho tanto ainda para refletir, mas da qual já estou longe há quatro anos - embora sejam 12 anos de pesquisa intensa - e ir descobrindo novas frentes. Nessa perspectiva a cidade de Ilhéus tem se mostrado um desafio novo e prazeroso. 
Fruto dessa inquietação, acabo sendo levada a prestar atenção nos fluxos, nos movimentos que ocorrem na cidade, nos apagamentos da memória, na construção de uma imagem de cidade. Em Ilhéus: patrimônio, memória, turismo, conflitos também se apresentam e diante disto, elementos postos nas pesquisas sobre São Paulo, retornam, ressignificados, me apresentando possibilidades de aprofundamentos no estudo da temática.
Não consigo desconectar minhas aulas, dos meus temas de interesse. Um alimenta o outro e, nessa toada, vamos caminhando, nos inquietando, estudando, pesquisando, questionando, avançando...



segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Por que o erro tem que ser um problema?

Ser professora me possibilita um lugar privilegiado como observadora. Dito isso, um hábito que adquiri e incorporei na minha prática docente é, após cada aula, fazer uma avaliação do vivenciado: da aula, de mim, dos estudantes, do processo.
O que venho percebendo, reiteradamente, na minha caminhada docente, incluindo a atuação na Educação Básica, é como temos uma enorme dificuldade em trabalhar e lidar com o erro no processo formativo, é quase como se errar fosse proibido. 
Me parece que algumas hipóteses podem servir para essa reflexão: primeiro o erro é visto como um fracasso, aliás acho que até mais: errar virou um delito, é como se quem errasse se tornasse uma espécie de criminoso. Por que as sociedades lidam tão mal com o erro? Por que será que na Educação, espaço formativo por excelência, o erro se torna tão impactante? 
Tendo a pensar que ninguém admite a possibilidade de errar, se o fazem não pode ser publicamente, ou seja, que o erro fique só para mim, só eu possa saber de sua existência.
O erro não deveria ser encarado dessa forma, ele não pode ser sempre visto como punitivo ou passível de punição no processo de aprendizagem. O erro faz parte desse processo e, se desconsiderarmos isso, estamos, de certa forma, matando o processo de formação. Se eu o passar a vê-lo como ponte para novos caminhos, admitindo a possibilidade de sua existência, ele se tornará menos traumático e até mesmo libertador. Quem nunca se bloqueou diante de uma prova ou atividade? Já parou para pensar por qual motivo?
Talvez o que falte nos cursos de formação, seja ele qual for, é poder discutir o erro e seu papel, sem medos, sem neuras, sem poréns. Quem sabe assim, se torne mais fácil lidar com a possibilidade de errar e o erro deixe de ser tabu e sim parte do processo, o que certamente será muito útil em nossa caminhada....

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Quem disse que estranhos não podem se aproximar...

Vez ou outra faço algumas experiências em sala de aula. Uma delas deu-se a partir da observação sobre o grupo com o qual estou trabalhando no componente. A maior parte dos/as estudantes já se conhecem e existem grupos mais ou menos próximos. Assim, o desafio seria fazê-los trabalhar juntos, porém quebrando a resistência dos mesmos em trabalhar em grupos que não são os seus habituais. Fiquei pensando em como dar conta desse trabalho e o desafio seria fazê-los trabalhar com pessoas com as quais tem pouco ou nenhum contato. 
Engraçado que no ensino superior, vemos o mesmo tipo de postura que os estudantes da Educação Básica adotam e nem sempre nos damos conta. Sempre tem o estudante do fundo da sala, aquele que sempre senta do lado direito e, por sua vez, aquele da esquerda e mesmo, não intencionalmente, aqueles que estão um pouco à parte dos grupos existentes.
Interessante observar que após a divisão "imposta pela professora", embora com alguma resistência e reclamação, aos poucos o trabalho fluiu: os/as estudantes em seus novos grupos de trabalho, começaram a debater o texto, suas ideias principais, fazerem correlação com seus cotidianos, trocaram experiências e impressões, foram se soltando. Quando esse momento terminou, nem sempre voltaram para aqueles seus lugares iniciais, acabaram em um novo grupo. Fiquei com a impressão que a resistências dos estudantes se deu por algo que Bauman (2010), no texto trabalhado na aula "Observação e sustentação de nossas vidas", chamou a atenção: aqueles estudantes, ali também se viam como estranhos, mas quem disse que estranhos não podem se aproximar?


sexta-feira, 15 de junho de 2018

São muitos os perigos que nos levam às histórias únicas...

Cada vez que assisto a palestra da Chimamanda Adichie (Os perigos de uma história única), me surpreendo pensando em quantas vezes julgamos os outros, em como repetimos hábitos e costumes, sem, ao menos, questionarmos os motivos dessas escolhas. Por que será que é tão fácil vermos sob a égide da história única?
O debate dessa aula foi bem interessante. É fascinante ver as conexões que os estudantes fazem, suas colocações, seus questionamentos, como trazem exemplos de seus cotidianos, de suas próprias histórias.
Creio que esse é o grande "barato" do processo de aprendizagem, se permitir ter novos olhares para velhas questões ou novos olhares para questões que não sabíamos que existiam. Que venham mais descobertas, a caminhada está só começando....


quinta-feira, 7 de junho de 2018

E começou um novo quadrimestre!!!!

A partir de 07/06/18 estamos iniciando as atividades do componente curricular Campo das Humanidades: saberes e práticas na UFSB. Esperamos que as aulas sejam um espaço de troca de experiências e aprendizados sobre a área de Humanidades, de forma geral, e de pesquisa sobre a região Sul da Bahia.
Para começar essa caminhada, iremos refletir/debater a partir de uma palestra de Chimamanda Adichie no TED: O perigo de uma história única